APELO DOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA NA GUINÉ-BISSAU:
“Bu ermon i kin ki ta kontau bardadi”!
(“Teu irmão é aquele que te diz a verdade”)
A todos os irmãos na fé em Jesus Cristo Ressuscitado
e a todos os homens e mulheres de boa vontade, presentes na Guiné-Bissau.
Dirigimos-vos este nosso Apelo em momento de enorme responsabilidade para todos e de grande risco para toda a população da Guiné-Bissau. Efectivamente, estamos colocados perante um problema nacional de enorme gravidade e de consequências ainda imprevisíveis. Os sinais explícitos de mal-estar vêm já de longe, mas alguns desses sinais manifestaram-se mais fortemente durante o último acto eleitoral. De facto, houve ainda algum esforço para, através dum diálogo franco e honesto, se ultrapassarem as dificuldades encontradas. Infelizmente, o golpe de estado, do dia 12 do mês em curso, veio agravar a situação, com toda a carga de riscos, de problemas e de sofrimentos para toda a população que esta acção militar arrasta consigo.
Agora, diante do facto consumado em que nos encontramos e das enormes interrogações com que todos somos confrontados, nós os Bispos da Igreja Católica na Guiné-Bissau, queremos confiante e empenhadamente dizer o seguinte:
1. Nós repudiamos claramente mais esta opção militar e todas as formas de violência escolhidas para resolver os nossos problemas. Infelizmente, na nossa história recente, tem-se recorrido várias vezes a golpes semelhantes, e os resultados práticos estão à vista de todos: não se atingem as causas profundas das crises e assiste-se ao aparecimento de novos conflitos. Com a violência das armas, desorganizam-se as estruturas básicas da sociedade e termina-se por sacrificar toda a população, que finalmente é quem mais sofre, sem poder entender bem porquê. Como diz a sabedoria popular: “Ora ki lifantis na guéria, padja ki ta paga kulpa”! (“Quando os grandes guerreiam entre si, os pequenos é que pagam as consequências”!).
2. Neste momento de alto risco e de decisão, nós aconselhamos vivamente a todos os Guineenses o seguinte:
a)- Que, antes de mais, façamos apelo à nossa fé comum, pois acreditamos no Deus Criador e Pai que intervém para proteger, ajudar e ensina-nos a viver como irmãos. Também agora, nesta situação particular, queremos elevar os nossos olhos para esse Deus providente e misericordioso que nos há-de seguramente ouvir.
b)- Que formemos correctamente a nossa consciência moral, de modo a promover e defender o bem comum, e a evitar comportamentos negativos que têm prejudicado enormemente a nossa convivência pacífica, nomeadamente:
- a busca desenfreada e ilegal do poder e da riqueza,
- a corrupção, nas suas variadas formas,
- a impunidade perante os crimes cometidos,
- a falta de transparência na gestão dos bens públicos,
- a espiral de violência, que leva à morte de várias pessoas,
- o desleixo generalizado no exercício da própria profissão, etc
c)- Que tenhamos um respeito sagrado pelas leis da República e pelas instituições democraticamente eleitas.
d) – Que o diálogo seja a via nobre a percorrer por todos na busca da reconciliação, da justiça e da harmonia social.
3. Neste momento de particular dificuldade, queremos também deixar um pedido à Comunidade Internacional:
- Que ela continue a ajudar a Guiné-Bissau a encontrar soluções mais apropriadas para a nossa situação actual e para a tranquilidade e paz de toda a população.
4. A terminar, como Pastores da Igreja Católica, queremos convidar todos os crentes a rezarem insistentemente a Deus, para que conceda a sua paz e a sua bênção à nossa terra, e a todos “dê vida e vida em abundância” (Jo 10,10).
Bissau, 17 Abril 2012
OS BISPOS DA GUINÉ-BISSAU